o desafio das nossas escolas

segunda-feira, 12 de março de 2012

ms

Com um sorriso de mestra, começou pelo teste de interpretação de texto:
- "Era uma vez uma linda princesa, vítima de uma horrível bruxa, que se casou com um lindo príncipe..."
- "Linda" princesa e um "lindo" príncipe? Então só porque eram perfeitamente lindos e lindamente perfeitos eles se uniram? Ah, eu não concordo com contos de fadas! Acredito mesmo é em reciprocidade, entendeu?! Reciprocidade…Não em uma ligação baseada nas qualidades externas, mas sim em valores e sentimentos internos.
- Então você quer dizer que estar com alguém não é necessariamente estar como esse alguém?
- É isso aí! E tem mais, doutora, eu nunca entendi por que a bruxa é sempre a excluída da história. Pelo jeito que a descrevem mais parece que ela fica de fora por ser uma mulher "horrível", "velha", necessitando de comparações do tipo: "existe alguém mais bonita do que eu?". A diferença entre uma bruxa e uma princesa deveria marcar suas identidades e seus interesses. E, por que não, a possível mudança de interesses?
- Você diz, por exemplo, de a princesa ficar malvada e a bruxa apoiar o príncipe?
- Ou mais que isso: a bruxa poder ficar amiga de todo mundo no final e parar de ser a excluída da história! E a princesa podia passar a ser forte com o tempo, e não apenas frágil, presa na torre eternamente!
- É... Seria interessante se a princesa fosse incluída nas aventuras heróicas, junto com o príncipe...
- É claro que seria! Afinal ela não tem ossos de vidro! Pode suportar os baques da vida! Se eu fosse a fada madrinha da princesa eu diria: Vá em frente... Vá, enfrente!

A psicopedagoga, pasma com o "não sei o quê" de diferente na menina, viu-se em grande conflito diante do questionário burocrático de análise para aceitação de alunos de inclusão da escola onde a menina queria estudar:

acima da média ( ) ---- mediano(a) ( ) ---- abaixo da média ( ) ---- outro (X) ----

(E ao marcar esses "outro" ninguém sabe se vai estar indo diferenciar para incluir ou diferenciando para excluir...)

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Inspirado no texto "Os sentidos da diferença", de Maria Teresa Mantoan; em sentimentos poéticos de Cristyane Martins e em questões outras de Marina Seneda.


9 comentários:

  1. Achei extremamente interessante! Intrigante! Adorei!

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  2. É por isso que eu gosto do SHEREK! Mas ainda estou a pensar sobre sua história, Marina...

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    1. Também me lembrei do Sherek e fiquei pensando... rsrs
      Vamos considerar que o Sherek é uma crítica aos contos de fada!

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  3. Excelente texto e forma de abordagem do assunto. Falaram sobre o tema e ainda nos tocou e impressionou com seus sentimentos poéticos.
    Gostei muito muito.

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  4. Tão pra inventar coisa pior que questionários assim. Não existe coisa mais cruel que adjetivar pessoas. Pessoas são maleáveis, vivas, não se pode confiar a potemcialidade da vida humana emmeras palavras que tentem definir algo....

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    1. Pois é!
      Talvez as palavras só não sejam 'meras'para descrever alguém quando há (inclusão)de muitas outras palavras pra isso!

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  5. Texto bom demais!!
    Estão de parabéns!

    Realmente pra mostrar que toda aquela questão do "preconceito", da "inclusão" ou "exclusão" são coisas que vão sendo inculcadas até mesmo nas pequenas coisas, né!!

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  6. Muito bom!
    Ao ler o texto lembrei de várias "princesas" e "bruxas", e percebi que as vezes é preciso parar pra refletir o quanta coisa já foi inculcada em mim..está na hora de desconstruir pra construir!

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